domingo, 29 de agosto de 2010

Abyss

Por que estou hesitando?

Esperei muito tempo por esse momento, e agora estou aqui. Mas claro que não é como eu imaginei.

Todos nós passamos por isso, imaginamos como será aquele momento que irá definir tudo pelo que sofremos, simplesmente, o instante que irá definir se tudo que passamos valeu ou não a pena.

Tudo começa a se mexer mais rápido agora e não sou capaz de me focar em nenhum detalhe, não consigo ver nenhum outro ponto a minha volta que não seja esse abismo criado por mim.

Dou mais um passo a frente e olho pra baixo.

A vertigem é enorme, tudo que aprendi até aqui, tudo que eu fiz e disse, pode ser que não tenha servido pra nada.

A idéia de ser mais uma desses que não aprende com os erros é uma das mais assustadoras possíveis.

Mais um pequeno passo agora, olho outra vez pra baixo.

Meus punhos fechados e meu braço completamente estendido para baixo, acompanhando paralelamente meu tronco, sinto-me petrificado.

Não posso encarar isso como um possível erro e também não deve ser uma evolução.

Fecho meus olhos agora, enquanto respiro fundo tento aceitar, ou pelo menos juntar coragem, enquanto o abismo parece crescer.

Estou quase lá.

Mas agora as coisas estão mais difíceis, o abismo está olhando pra mim, esta olhando dentro de mim. Não existem mais máscaras e nem muralhas.

Estou só aqui, indefeso e verdadeiro.

Dou um passo grande agora e estou na beira, sentindo meu corpo puxado para baixo.

Sento, fecho os olhos e deixo meu corpo ser tragado para dentro, enquanto a escuridão engole meu corpo, apenas silêncio.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Like falling into sleep

Você nunca lembra como acontece.
É exatamente como cair no sono, você sabe que acontece, mas nunca se lembra exatamente do momento em que ocorre.
Posso estar no meio de qualquer coisa e me pego pensando, vagando por lugares que me fazem sentir uma espécie de nostalgia.
E eu nunca estive em nenhum desses lugares.
Minha rotina parece uma cópia de alguma coisa, outra coisa que não me pertence.
As pessoas passam na minha vida, como fotos, quase sem fatos.
Como será que passo na delas? Eu adoraria saber que imagem eu deixo na cabeça das pessoas, que impressão causo ou até se chego a ser lembrado.
Acordo de mais um pensamento, onde estive, parece que nunca estarei e tudo parece branco e chuvoso.
As luzes florescentes me deprimem mais que o escuro na maioria das vezes.
Mais um sorriso, mais um gesto de educação, outro acesso, mais um desvio de olhar, um monte de saídas e nenhum lugar para onde ir. Todos se comunicam e parece que ninguém me diz nada. Com isso, sinto cada vez menos vontade de gastar minha energia.
O sono sempre chega depois de tudo e eu nunca lembro quando acontece.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

If the world


Ela dirigia apressada e, com certeza, preocupada.
Preocupada demais para perceber algo em mim.
Eu queria tanto que ela me perguntasse se estava tudo bem, e mesmo assim talvez eu não a dissesse nada. Tentaria ser grosso e acabaria com o assunto.

Na verdade eu tinha certeza. Não queria que ela perguntasse se eu estava bem, queria que ela adivinhasse que eu não estava e mesmo assim eu teria dito que estava ótimo, que estava cansado apenas ou um pouco irritado, que só queria chegar em casa.


Ela tem preocupações reais e meus problemas são apenas pequenos demais.

Queria que ela soubesse que eu odeio tudo isso aqui, que odeio esse carro, essa música, essa roupa e esse horário do dia. Que não suporto essa rotina e odeio o fato de acordar todas as manhãs.
Queria não precisar contar nada pra ninguém e queria muito conseguir responder quando eles perguntam.

Mas ela não vai perguntar nada e vou acabar esquecendo por alguns momentos, provavelmente a próxima música no rádio me levará para outro lugar. Tomara que pra longe.

Passo as noites acordado e na maioria delas não escuto ninguém. Ela sabe disso, mas não faz nada. Acho que ela deveria pelo menos brigar comigo, dizer que isso não é normal. Deveria me deixar preocupado com algo.

Mas talvez seja egoísmo demais querer que os outros adivinhem ou se importem o suficiente.

Os dias são bem mais curtos a cada dia e mesmo assim eu digo pra todo mundo que era isso que eu queria e a maioria deles acredita. Só detesto quando eles perguntam alguma coisa que só tem duas respostas a verdade de mentira e a mentira de verdade.

Talvez se o mundo explodisse eu não sentiria falta dele, ainda mais o meu mundo que é tão pequeno e sem graça e que eu invento pedaços faltando, apenas para que eu queira completa-lo.

Me pergunto o que eu faria, já que ninguém pergunto, o único problema é que não acredito na resposta.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Blood Lust

É uma sede que não passa.

Uma vontade que não tem nome.

Um sentimento que não da para ser definido.

Constantemente, um desperdício.

É uma fuga sem volta.

Uma janela com barras de ferro.

Um perfume inesquecível.

É calafrio que some mais rápido do que surge.

Uma misteriosa língua sem tradução.

Um abismo repleto de luzes.

A solidão é só minha.

Ainda mais, nesta noite tão fria.

Que não consigo pensar em ninguém que eu queria.

domingo, 15 de agosto de 2010

Old movie

O apartamento não estava bagunçado, o que era raro. Ainda perdi uns cinco minutos escondendo a bagunça dentro dos armários.

Não acho que ela percebeu a bagunça, coloquei-a sentada no sofá em frente a TV. Voltei com duas taças de vinho e uma garrafa.

O jeito que ela me olhava nos olhos, sem eu ter feito praticamente nada, era algo que me deixava quase desconfortável.

Sentei ao seu lado e coloquei um filme qualquer, não chegamos a ver nem a primeira cena.

Assim que meu ombro encostou no dela e minha cabeça começou a virar para falar com ela, com um pequeno salto ela voou em minha direção com um beijo.

Ela parecia um ser faminto, como se fosse alguém que nunca tivesse feito aquilo antes. E com certeza não era por minha causa.

Resolvi não pensar em nada e aproveitar aquele momento.
Acho que isso chama sexo de fuga ou liberdade.

Mas quando acaba, o silêncio é de matar.
Eu fiquei deitado na cama e ela sentada do meu lado, de costas para mim. Sem falar nada, apenas pensando.

Levantei e coloquei seu cabelo atrás da orelha, quando fui beijá-la no rosto...

- Eu tenho namorado.

E o silêncio voltou a perdurar.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

On an Island

Sinto saudade do barulho que a chuva fazia, naquelas noites quentes, em que você de cabelo molhado, usando uma camiseta minha jogava baralho descalça.

A tv no canal de sempre, passando algum filme dublado e a casa toda com as luzes acesas.

Era nossa maneira de fazer a noite durar o máximo possível.

Lembro de ser o último a dormir, enquanto todos já haviam ido deitar e eu queria ficar acordado, lutando para manter os olhos abertos, enquanto a chuva parava e o calor continuava.


Depois de muita luta eu acabava desistindo e acabava dormindo no sofá, você sempre vinha me acordar um um beijo na testa, me chamar pra ir pra cama.

Enquanto esperava o sono chegar eu torcia para voltar a chover, queria ouvir o barulho, não ligaria se no dia seguinte não pudéssemos ir para a praia.

Naquela casa o tempo parecia durar pra sempre, parecia que seriamos sempre jovens, que tudo seria branco e de algodão, tudo sempre macio, até as risadas.

Era como ser criança novamente. Eu conseguia entender a animação dos outros quando acordávamos e o dia passava com todo mundo torrando no sol.

Mas eram as noites que me alegravam, aquela sensação de calor na pele queimada enquanto você usava alguma camiseta velha e branca minha, com as bochechas avermelhadas do sol. Eu ficava esperando pra te ver de cabelo molhando e olhando pra mim tímida por achar que tinha jogado a carta errada, que iríamos perder no baralho.

Sinto falta desse lugar e mais ainda desse tempo e não entendo por que não faço nada para que coisas assim aconteçam novamente.

Consigo lembrar o cheiro das plantas molhadas lá fora, conversando com a chuva, com o barulho dos chinelos estalando a cada passo quando voltávamos para casa, com o chiado da tv que ficava ligada apenas fazendo companhia e som ambiente.

Com a hora que a comida ficava pronta, mas mais do que tudo sinto muita saudade de você me acordar com um beijo.

Às vezes quando acordo no meio da noite, acho que é você que está aqui, me acordando, me chamando de volta.

Mas nunca é.

domingo, 8 de agosto de 2010

Ordinary History

Eu queria descobrir um jeito de fazer isso durar pra sempre. Essa vida ordinária.

Acordar em meio ao caos, tentando se recuperar das dores no corpo, e da cabeça completamente enfurecida de ter sido despertada novamente.

Ela dói e sinto um ardor no fundo dos olhos que reverba até a nuca. Isto significa que não dormirei mais, porém continuarei exausto.

Levanto pelado pela casa, como se nada tivesse acontecido, nunca. Preciso me localizar sempre, onde deixei os cigarros, carteira ou se o celular que nunca toca ainda tem bateria.

Geralmente comida amanhecida é bem mais gostosa, não consigo imaginar o motivo. Mas pizza gelada deveria ser lançada em restaurantes caros, pagariam fortunas apra comer um pedaço velho de pizza. Mas ninguém descobriu ainda.

Geralmente o dia já está acabando na hora que preciso comprar um maço novo, então acabado ficando no próprio bar que os comprei.

Começo sempre esboçando uma reação, mas acabo tomando goles violentos e fazendo amizades amargas, com pessoas que querem me sugar antes que eu roube suas energias.

Então acordo, não sei onde enfiei os malditos cigarros e meus olhos não conseguem encarar um simples raio de luz.

Água pode te curar nesses momentos, mas cerveja faz você desistir de querer a cura.

Parado no quintal, com a cabeça doendo, dando pequenos goles com a lata refletindo no fundo da piscina e seu corpo pedindo o primeiro cigarro. Aquele que vai te deixar com o gosto amargo nos lábios pro resto do dia, a garganta pedindo uma trégua.

Mas enquanto somos jovens não dá pra desistir, em uma semana eu paro e volto ao normal. É sempre em uma semana. talvez a semana que vem, nunca essa.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Bring me to life!

Crio dois mundos para que ela possa viver dentro do meu.

No primeiro, é ela que habita, de forma harmoniosa e adorável.

Esse mundo deveria ser o que eu queria viver. Aqui eu encontraria a paz com certeza.

No segundo ela é a vilã, ela é a responsável por eu não poder fica em paz comigo mesmo e ela nem imagina isso.

Não importa o quão bom ou ruim seja, esse conflito vai comigo até o fim, ele faz parte de mim e devo domá-lo ou sucumbir a ele, depende do que pareça mais interessante.

As máscaras que uso quando estou com ela não parecem máscaras, porque eu não a sinto, eu sei que estou usando, mas ela encaixa de forma tão confortável.

O drama faz falta e então visto a máscara que odeio e saio por ai colecionando corações. Sejam falsos ou tolos, verdadeiros ou inconseqüentes, preciso colecionar as mudanças que sinto neles, ou em mim.

Não posso aceitar que seja tão fácil assim, então dou um jeito de me sabotar acreditando que eu realmente preciso fazer isso.

Então lá vamos nós de novo.

domingo, 1 de agosto de 2010

in this moment

Depois disso, não tivemos mais contato.

Não que eu ligasse para o fato de ela estar mentindo para alguém, mas é que não estava com cabeça naquele momento para ter que ficar inventando desculpas para aceitar aquilo.

Não estou apaixonado nem nada, mas a culpa dela era tão diferente das outras.

Depois daquela noite, um pedaço da mentira fazia com que eu parecesse tão vazio.

Simplesmente uma planície de coisas descartáveis.

E assim foi. As coisas foram ficando tão demoradas, os dias se arrastando, porém nada marcantes.

Tento culpa-la por minha vida estar como está.

Deitado aqui olhando pro teto, enquanto um turbilhão de pensamentos luta em minha cabeça, escapando de mim para explodirem em algum outro lugar.

Quem será que eles vão atingir? Até onde minha energia poderá chegar?

Não sei se vou descobrir o que procuro e enquanto isso o mundo giro lá fora, muito mais rápido do que eu poderia querer.

Então, o que eu faço agora?

Fico aqui, sangrando lentamente?

Ou arrisco ser engolido pelo mundo?