terça-feira, 28 de setembro de 2010

on the road

Ela desceu as escadas da portaria do prédio e veio em direção ao carro.
Pela primeira vez em muito tempo que eu conseguia lembrar, senti um certo frio na barriga. Talvez sem motivo.
Ela entrou me deu um beijo no rosto e disse: -Oi.
A principio não respondi nada, senti-me meio travado, apenas acelerei o carro esperando a que ela perguntasse algo.

- Aonde vamos?

- Não sei, queria ir pra longe.

- Quão longe?

- Não sei, até onde você acha que pode ir?
- Eu tenho a noite inteira...

Não era isso que eu estava pensando, eu realmente queria fazer algo que me levasse pra longe que me tirasse daquele desespero que sentira durante a semana.
Parei no primeiro posto de gasolina que vi e completei o tanque.
Não sei se ela estava levando a serio o que eu havia dito, mas eu estava disposto a fazer e a dirigir pra longe.
Ela ria e parecia se divertir com o que estava vendo, acho que no fundo ela achava que eu tinha alguma surpresa pra ela ou algo do tipo.
Dirigi em direção à estrada e quando entrei na rodovia olhei para o lado e ela mordia os lábios de ansiedade sem perder o sorriso. Não sei exatamente por que, mas aquela parecia uma fuga que ambos precisávamos.

- E seu namorado? Onde está? O que vai dizer pra ele?

- Se ele ligar invento algo, sei lá. Ele deve estar trabalhando.

- Quem trabalha numa sexta a noite?

- Ele é dono de uma boate, deve estar por lá cuidando das coisas e eu não estava no clima pra ir lá hoje e ele sabe bem disso, duvido que ele me ligue.

- Ok então, por mim tudo bem. (E estava bem mesmo)

- Você sabe pra onde vamos né? Você tem algo planejado certo?

- Na verdade não, vou dirigir até dar vontade de parar.

E foi o que fiz, durante umas duas horas eu dirigi meio que sem rumo, conversando com a Renata e trocando as músicas no rádio. Aquela escuridão da rodovia me deixava tão em paz e nos divertimos tanto, os dois estavam realmente apreciando o momento e pelo menos eu não pensava em mais nada e nem em outro lugar. Em muito tempo eu não sentia isso.

- Erick, estou com fome, não podemos parar em algum lugar para comer?

- Sim, assim que passarmos por algo eu paro.

À beira da estrada, uma lanchonete, dessas comuns, que as pessoas apenas param, comem e vão passando.
Sentamos no balcão e a atendente nos trouxe dois cardápios.

- Ai que vontade de comer algo bem gordo e domar uma cerveja.

- Certo, Dona Renata, então vamos comer dois hambúrgueres e pedir uma long neck para cada um, que tal?

- Perfeito!

Lembro do gosto daquele hambúrguer, tinha gosto de nostalgia. Aquela noite parecia algo que eu sentia saudades há muito tempo, mas nunca havia feito.
Enquanto voltávamos pro carro, com aquela sensação de satisfação, ela me abraçou e me deu um beijo no rosto.

- Muito obrigado pelo jantar, senhor Pecks.

Apenas ri e abri a porta do carro, fazendo gesto com a mão para que ela entrasse.

- Sua carruagem esta pronta senhora... Eu não sei seu sobrenome.

- Tavares. Renata Tavares.

- Então aqui está Senhora Tavares.

Enquanto ria ela sentou entrou no carro e me puxou para dentro.
Estava tão escuro naquele estacionamento e com o carro recheado de INSUL FILM, não havia ninguém que pudesse enxergar o que se passava lá dentro.

- Juro que eu não tava pensando nisso, hoje eu só queria conversar mesmo.

- To nem aí, agora me beija e depois conversamos...

Depois de tudo, ficamos mais alguns minutos sentados no banco de trás do carro, sai e comprei mais dois hambúrgueres e mais duas cervejas.
Comemos e pegamos a estrada novamente.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Before the dawn

Podia sentir a escuridão escorrendo do meu couro cabeludo, acariciando meu rosto e chegando aos meus lábios.

Meus braços formigando enquanto o vento levava os últimos resquícios de luz que ainda restavam em mim.

Se eu respirar fundo, sentirei melhor. - Pensei.

Sentir um pouco de dor ou alívio, nunca dava pra saber qual viria.

Mas estava vindo.

Era sempre como abandonar qualquer vontade mundana ou abraçar algo tão intimo e interior que nem nome tem.

A escuridão apagava tudo, principalmente os problemas. Era sempre a luz que os trazia de volta.

Como acordar, sabendo que voltei pro mundo.

às vezes a escuridão tinha gosto de sangue, ou era tão densa e viscosa, um vermelho tão escuro, que deixava de ser vermelho.

Se eu respirar mais fundo, talvez comece a ficar mais rápido. - Pensei.


Silêncio...

Apenas o som da minha respiração misturada com vagarosos pontadas estremecendo por mim.

Silêncio...

...e alguns barulhos.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Por que é assim?

Não sabia o que estava fazendo, nem o porque.

Não parecia certo ou errado. Na verdade não parecia real.

Eu sempre escutava por aí, via nos filmes mas nunca havia feito.

Me faltava coragem.

Não fui eu quem buscou, mas foi surgindo. Não sei nem dizer como a ideia surgiu.

O mais chocante de tudo, foi quando percebi que eu iria mesmo à diante com aquilo.

Quem era não importava, não era sentimento. Mas eu precisava ver como era.

A primeira vez que toquei a pele de alguém sem ser a sua foi como uma montanha-russa.

Você começa com medo, mas após algum tempo consegue soltar os braços e relaxar.

E foi o que fiz. Depois de um certo toque, não há mais volta e estava feito.

Voltei pra casa e tomei o banho mais longo da minha vida. A sujeira jorrava de mim, mas a aguá continuava a escorrer límpida.

Da mesma forma que eu tinha nojo de mim, eu queria de novo.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

First Date

O restaurante, a bebida, a comida e o clima. Tudo é igual.

Repito as palavras, conto as mesmas histórias, arranco as mesmas risadas.

A ansiedade é a mesma, as vontades também, talvez o final da noite seja igual.

Mas a pessoa na minha frente é diferente.

Às vezes, quando ela se vira ou mexe no cabelo, eu penso em você.

Toda vez que entra alguém pela porta do restaurante eu olho com certa esperança de que seja você entrando.

Te vejo no rosto da garçonete ou sentada na mesa ao lado. Torço para que seja seu o reflexo no espelho ou que seja sua voz lá fora, rindo enquanto espera na fila.

Repito nosso primeiro encontro várias e varias vezes, mas não consigo recria-lo.

Veja as garotas mudarem, mas as mesmas palavras funcionarem. Nunca sinto o mesmo gosto na comida.

Penso que talvez tenha algo errado com o restaurante, mas continuo voltando, continuo trazendo elas e falando de você, ou contando exatamente o que eu te contaria.

Continuo te procurando nas outras mesas, nas outras bocas, em outros suspiros.

Visto a mesma gravata, passando o mesmo perfume e tentando ter a mesma intensidade.

Ainda sei de cor as falas, os atos e os movimentos, mas talvez eu não seja um ator tão bom, pois não consigo enganar a mim mesmo.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

i miss myself... where did i go?

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

move on

Agora posso fingir que a tenho, por mais um tempo, posso alimentar essa falsa esperança e tentar dormir um pouco.

Nas noites que não estou procurando algo eu consigo dormir, parece que toda aquela ansiedade se vai.

Eu conheço duas formas de enganar a própria mente, sem que se tenha um prejuízo muito grande.

A primeira é se distrair, seja com qualquer coisa, e eu realmente digo qualquer coisa.

E a segunda?

Bem, essa é encontrar alguma resposta provisória para uma pergunta sem resposta, e é isso que fazemos com as relações descartáveis, as usamos para nada achando que atingiremos algo.

Mesmo sem saber o que estamos buscando, criamos esses objetivos absurdos, como tentar manter um relacionamento, quando nossa mente não se sente satisfeita com ele.

Quando a fome de descoberta não se foi, mas parece satisfeita por hora.

Agora ela passa uma grande parte do tempo na minha vida e eu tento aprender algo com essa relação requentada.

Por que não? Voltar atrás era algo que eu nunca havia feito, talvez esteja faltando isso para mim, de alguma forma.

Não estou brincando com ela, mesmo quando estou sendo apenas um animal ou quando estou inseguro, por não estar protegido por mim mesmo.

Tudo que eu quero agora é fechar os olhos e desligar minha mente dela mesma, já que sou tão bom em não deixá-la se conectar com certas coisas, poderia servir para tudo.

Mas não, meus próprios pensamentos me vêem como o inimigo muitas das vezes, então a cada noite minha mente não quer que eu durma enquanto ela não está satisfeita.

Isso parece tão familiar...