segunda-feira, 28 de junho de 2010

Wrong half

Deixei ela pra trás, eu sabia o que iria acontecer quando eu fosse embora.

Parece que sempre quem eu conheço é incontrolável. é algo que sempre imaginei controlar, mas nunca consegui.

Não é que eu não goste dela. Não gosto suficiente.

Não queria ficar, mas não queria que ela ficasse, mas sabia que não era suficiente, pois também não queria que ela fosse embora comigo.

Meu cansaço com certeza reflete em meu rosto, mas apenas minha disposição difere de opinião.

Estou cansado de não ter limite. Nem elas.

Deve ser por isso que me jogar de cabeça dentro do meu mundo dure tão pouco, pois apenas metade de mim quer isso de verdade.

A outra está por aí, como um trem desgovernado, sem o menor controle, deixando tudo à sua volta em pânico.

Mesmo que isso acabe, uma metade estará sempre insatisfeita com a outra.

domingo, 27 de junho de 2010

Sábados de solidão

Água.

Mil alfinetes espetavam a minha cabeça, mesmo com o calor infernal, eu tentava voltar para o som.

Fechava os olhos doloridos com mais força e tentava mergulhar dentro da minha própria mente. Em vão.

Ainda com os olhos cerrados, abertos apenas o suficiente para saber que a claridade refletia doloridamente dentro de toda a minha cabeça.

O gosto da minha boca era terrível, e a sensação também não agravada em nada. Era como se tivesse levado um chute lá dentro e depois dormido com um cabo de guarda chuva na boca, o gosto devia ser aquele. Talvez pior.

Andei tropeçando na bagunça, derrubando algumas latas velhas de cerveja, pisando em roupas que eu não pretendia lavar.


Aguá. Não seria capaz de ter um único pensamento que não fosse aguá.

Quase que automático, andei até a cozinha e estiquei a mão até o filtro, que claridade era essa?!

Junto com o líquido, voltava meu corpo, minha mente e meu primitivo instinto de sobrevivência começava a adormecer, mas não completamente. Posso pensar que nem uma pessoa agora.

Precisava de um banho, precisava me sentir menos imundo. Ainda conseguia fazer isso.

Então, ainda com os olhos não muito abertos e com pensamentos semi-primitivos esticava a mão até a torneira e começava a sentir a aguá escorrer pelo meu corpo.

Eu sempre iria olhar minha barriga, odia-la e imaginar que de alguma forma ela iria embora sozinha.

Tinha bituca de cigarro até no banheiro.

Sai, liguei a TV para saber que horas eram. Sempre era a hora de acordar, ou cedo ou tarde demais. Na maioria das vezes, tarde.

Água.

Havia bebido tudo que tinha em casa, já que trocar pessoas por bebida parecia o correto. Não é que não havia ninguém, só não sei onde procurar.

Beber sozinho é menos complicado que ir atrás de companhia sozinho. Acho que nunca aprendi como fazer o segundo.

Eu tenho certeza que se eu procurar vou encontrar alguma bebia em alguma lugar e vou poder fumar meu último cigarro. Então vou repetir tudo.

Vou sair pra comprar mais os dois, na esperança de trombar com alguém no caminho, olhar para os lados e desviar o olhar na hora certa.

Água. Não, cerveja.

Não que minha cabeça tenha parado de doer, nem que minha boca esteja menos amarga, mas é assim que começavam os domingos.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Eu poderia ficar ouvindo os barulhos que ela fazia pela casa para sempre. Morreria feliz.

Ia além da satisfação ou do amor que eu sentia por ela. Tudo era tão singelo e autêntico.

Com os olhos fechados, o dia nascendo e o sábado acontecendo. Aqui dentro.

Podia ouvir você derrubando algo na cozinha. Me despertava um sorriso bobo no canto dos lábios e uma risada quase muda.

Podia imaginar sua cara abaixando para pegar, seja lá o que fosse.

Minha cama tinha um cheiro novo com você aqui. Fazia sair dela, ficar mais difícil ainda.

Podia imaginar que nesse momento você comia alguma coisa e imaginava como você estava sentada, se seu cabelo estava caido para o lado ou apenas bagunçado.

Depois, seus passos voltando para o quarto, meio apressados. Era melhor que música.
A porta do banheiro batendo e alguns intermináveis segundos de silêncio.

Até a aguá começar a cair, e eu imaginar seu corpo. Seu calor.

Eu queria entrar lá, mas sabia que não havia tempo. Alguns minutos se passaram e quando vi você sair.

Enrolada na toalha, o cabelo molhado eu poderia olhar pra você pra sempre. Morreria feliz.

Ia lembrar sempre do seu cabelo. Iria sempre ansiar pela sua pele.

-Tenho que ir trabalhar.



Sua voz...

Depois do beijo de despedida e de ouvir você deixando meu apartamento, eu não podia acreditar o quanto eu estava te amando. E só havia percebido naquele momento.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Ela fechou a porta do quarto, sentou na cama e apertou play.

Não importava o que tocava, ela só queria parar de escutar os barulhos do mundo la fora.

Nem raiva, nem decepção, era outra coisa. Não era a primeira, nem a última vez que alguém iria mentir para ela, mas doía como qualquer outra.

Queria contar para seus pais o que havia acontecido, mas tinha vergonha de eles saberem o quanto as pessoas eram cínicas.

Quando eles perguntassem o que havia acontecido, provavelmente daria alguma resposta ríspida e mal humorada.

Nunca soube dizer porque. Mesmo quando ensaiava em sua cabeça como iria contar para eles, no momento que os visse, tudo mudaria.

Tinha vergonha que eles achassem que ela era ingênua, que acreditava demais nos outros, que nunca aprendia a sua lição.

"Continuo sendo burra, porém estou cada vez mais gelada. Só pego o lado ruim das coisas."

Agarrou sue travesseiro com força e deu o maior grito silencioso que conseguiu, mas não conseguia chorar.

"Não vou contar pra ninguém, prefiro que eles pensem o que quiserem de mim. Não vai ser pior do que eu penso."

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Part VII

Logo na entrada do bar eu já podia vê-las. Mas podia ver varias outras pessoas na mesa, eram pelo menos umas seis.

- Cara, você marcou o que com elas?
- Meu, só combinei de sair com as duas não sabia que elas iam chamar mais gente.

Eram 3 homens e 4 mulheres quando sentei na mesa, cumprimentei a todos com pouca vontade, um simples aceno, e sentei na mesa.

Olhei para cara de todos e precisava fazer algum comentário, qualquer um que fosse.

- Que sede, hein? Garçom!

Pronto, agora a peteca estava com eles.

Marcos sentou do lado da "sua", só que tinha um cara com a "minha" e eles pareciam bem próximos. Resolvi tentar ver o que era aquilo:

- Prazer, Gustavo. - Estendi a mão e o aperto do outro lado não era nem forte nem fraco, era meio desconfiado.

- Guilherme.

Mal olhei para as outras pessoas que estavam na mesa, eu queria entender o que era aquilo. Como ela combinava de sair conosco e chegava lá com o cara?

Eu não sabia o que perguntar ou o que fazer, teria que esperar o gelo ser quebrado do outro lado. Olhei para o Marcos e ele leu meu pensamento.

As bebidas chegaram e agora era a hora de Marcos tomar conta da mesa. Após os primeiros goles estávamos sempre ambientados e eu me manteria quieto enquanto ele abria caminho na conversa. Sempre foi assim.

A tal da Renata nem me olhou direito, parecia que tinha algo errado com a minha cara.

Marcos foi falando e o povo começou a entrar na dele. À essa altura eu já havia cumprimentado o restante da mesa de forma apropriada e havia fingido que tinha escutado seus nomes.

Nessas horas, os bares com televisão são uma beleza, você bebe olha pra tv e fingi que está interessado na conversa mas distraido com algo, ninguém nem liga. As velhas risadas, as mesmas histórias que ele sempre contava e sempre funcionavam, fossem pra uma ou pra dez pessoas. Os amigos não eram nossos, mas estávamos no centro das atenções como sempre.

Só que dessa vez eu não queria fazer isso, pelo contato dos dois na minha frente e pelo desconforto dela é óbvio que tem alguma coisa errada. Será que ela não sabia que nós viríamos.

Levantei para ir ao banheiro e ela veio atrás de mim, como se não me conhecesse me olhou de forma esquisita e foi isso, não tive nem vontade de puxar alguma conversa.

E a noite foi um desastre enquanto meu dinheiro ia embora em bebidas que eu deveria guardar para uma noite que fosse valer a pena mesmo.

Mas nunca valia.

Esperei a menina que estava com o Marcos ir ao banheiro e fui atrás dela, ninguém nunca desconfia de banheiros e bêbados, não sabia seu nome:

- Nossa o Marcos não para né.

- Ah, ele é sempre engraçadão mesmo, por isso me divirto com ele. Mas sua amiga não está se divertindo muito hoje.

- Quem, a Rê?

- É.

- Ah, ela e o namorado estão meio brigados, nem sei o que eles fazem aqui.

- Ah...

Namorado! Tava na cara, mas o que ela veio fazer aqui com o cara. Não que eu ligasse pra alguma coisa, mas particularmente não tinha muito respeito por traição e nem por traidores.

Só queria ir embora, um completo desastre de noite e um desperdício de tempo e dinheiro. Acontece.

Quando entramos no carro a primeira coisa que eu disse:

- Que piranha! Tem namorado e ontem estava no motel com a gente, agora fica com essa cara de santo na frente de todos como pode?

- É Gu, você sabe como é.

Na verdade eu não sabia...

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Part V

Marcos usava uma jaqueta preta de alguma grife, ele usava bastante aquela jaqueta. Como sempre íamos a novos lugares e conhecia-mos novas pessoas, ela sempre parecia nova.

Eu costumava evitar os lugares que tinha que pagar para entrar, mas nunca falava isso pra ninguém, apenas tentava sugerir para o Marcos marcas as coisas em bares ou baladas não tão caras.

Nunca concordei em gastar muito dinheiro com isso, no fim das contas eu nem lembrava delas mesmo.

Era realmente difícil lembrar de detalhes das noites, dos lugares ou das pessoas. De vez em quando eu via alguém que já via visto antes e pensava, nossa esse aí deve ser pior que nós.

Mas numa cidade com 20 milhões de habitantes não é tão comum ver os mesmos rostos.

Um milhão de noites, iguais e diferentes. Um milhão de lugares para lembrar, todos com cheiro de música caótica e com gosto de beijos sem gosto. Eu sempre senti uma empolgação forçada, mas na noite não há espaço para tristeza, ninguém nunca perceberia.

Aquela sensação de que a próxima noite sempre seria melhor que a atual, me perseguia a cada vez que estamos no carro, eu sempre pensava: "Nossa, é hoje."

- Chegamos. - Disse Marcos.

Nem sempre era, quase sempre não era.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Part IV

No dia seguinte eu nem pensei na noite passada.

Era sábado e eu tinha mais uma noite para sair por aí.

E era basicamente isso, mais uma noite, mais gente desconhecida e mais possibilidades.

É claro que na maioria das noites acabava em algo que nunca iria me lembrar, como a noite passada.

Qual era mesmo o nome dela? O Marcos sabia. Mas pra que eu iria querer saber? Nunca mais iria falar ou vê-la.

A não ser que eu queria coloca-la na lista...

Tomar banho, escolher uma roupa para que os outros te olhem e dirigir até a casa do Marcos.

Meu Deus, como eu odeio dirigir, é por isso que sempre dei o carro na mão de qualquer um. Estou seguro e desligado enquanto não preciso dirigir.

Chego, buzino e pulo para o banco do passageiro. Marcos vem correndo com aquela cara de "é hoje". O carro já está ligado, ele só acelera.

- Onde vamos?

- Sabe as meninas de ontem?

- Sei. - respondo.

- Então, resolvi ligar pra elas e marcar alguma coisa e elas toparam.

- Ah! Cara elas são menores não da pra fazer nada com elas.

- Cala essa boca - Responde rindo. - Você sempre tem esse medo de tudo.

Respiro fundo e penso, preciso aprender a viver fora do meu casulo, vamos lá todo mundo faz essas coisas.

Não era nada demais, mas eu sempre tive mais medo de fazer as cosias erradas e acabar me ferrando, mas o que poderia acontecer?

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Comming home

Em outra situação a qual não faço parte... esse suor e essa música não são meus.

Nem as memórias são minhas e elas estão sumindo.

Eu estou sumindo.

Não lembro de ter existido e agora não sinto estar vivendo.

Talvez se eu for mais fundo, talvez se eu tentar uma dose maior...

Nas noites que meu coração parece falhar eu torço para que ele pare sozinho, sem que seja minha culpa, um passe livre para o desconhecido.

Nas manhãs eu quero viver, quando estou mais fraco e sonolento é quando sobrevivo melhor.

Mas elas são tão raras, já que em quase todas estou dormindo, cansado de absolutamente nada.

Cansado de não sentir, exausto em perceber que aos poucos nem as sensações mais fortes conseguem me marcar.

Não há mais espaço para as marcas ou não tem mais fogo pra queimar?