terça-feira, 10 de agosto de 2010

On an Island

Sinto saudade do barulho que a chuva fazia, naquelas noites quentes, em que você de cabelo molhado, usando uma camiseta minha jogava baralho descalça.

A tv no canal de sempre, passando algum filme dublado e a casa toda com as luzes acesas.

Era nossa maneira de fazer a noite durar o máximo possível.

Lembro de ser o último a dormir, enquanto todos já haviam ido deitar e eu queria ficar acordado, lutando para manter os olhos abertos, enquanto a chuva parava e o calor continuava.


Depois de muita luta eu acabava desistindo e acabava dormindo no sofá, você sempre vinha me acordar um um beijo na testa, me chamar pra ir pra cama.

Enquanto esperava o sono chegar eu torcia para voltar a chover, queria ouvir o barulho, não ligaria se no dia seguinte não pudéssemos ir para a praia.

Naquela casa o tempo parecia durar pra sempre, parecia que seriamos sempre jovens, que tudo seria branco e de algodão, tudo sempre macio, até as risadas.

Era como ser criança novamente. Eu conseguia entender a animação dos outros quando acordávamos e o dia passava com todo mundo torrando no sol.

Mas eram as noites que me alegravam, aquela sensação de calor na pele queimada enquanto você usava alguma camiseta velha e branca minha, com as bochechas avermelhadas do sol. Eu ficava esperando pra te ver de cabelo molhando e olhando pra mim tímida por achar que tinha jogado a carta errada, que iríamos perder no baralho.

Sinto falta desse lugar e mais ainda desse tempo e não entendo por que não faço nada para que coisas assim aconteçam novamente.

Consigo lembrar o cheiro das plantas molhadas lá fora, conversando com a chuva, com o barulho dos chinelos estalando a cada passo quando voltávamos para casa, com o chiado da tv que ficava ligada apenas fazendo companhia e som ambiente.

Com a hora que a comida ficava pronta, mas mais do que tudo sinto muita saudade de você me acordar com um beijo.

Às vezes quando acordo no meio da noite, acho que é você que está aqui, me acordando, me chamando de volta.

Mas nunca é.

2 comentários:

Marina Wolff disse...

de todos q eu li até hoje, esse eu adorei mesmo... talvez pq eu sou meio melosa haha
aquela nostalgia de algo que nunca aconteceu, mas deixa sempre uma sensação estranha
;D

Camila Paier disse...

Nunca é, o que queriamos que fosse. Tudo isso, fruto da nossas expectativas, burras e desleais. Enfim, é ótimo poder ler, ver e sentir, que um homem, e a algum representante da raça masculina, ainda tenha sentimentos. Dá esperança, sabe, amigo?
Lindo texto, parabéns!
Beijo!