domingo, 27 de junho de 2010

Sábados de solidão

Água.

Mil alfinetes espetavam a minha cabeça, mesmo com o calor infernal, eu tentava voltar para o som.

Fechava os olhos doloridos com mais força e tentava mergulhar dentro da minha própria mente. Em vão.

Ainda com os olhos cerrados, abertos apenas o suficiente para saber que a claridade refletia doloridamente dentro de toda a minha cabeça.

O gosto da minha boca era terrível, e a sensação também não agravada em nada. Era como se tivesse levado um chute lá dentro e depois dormido com um cabo de guarda chuva na boca, o gosto devia ser aquele. Talvez pior.

Andei tropeçando na bagunça, derrubando algumas latas velhas de cerveja, pisando em roupas que eu não pretendia lavar.


Aguá. Não seria capaz de ter um único pensamento que não fosse aguá.

Quase que automático, andei até a cozinha e estiquei a mão até o filtro, que claridade era essa?!

Junto com o líquido, voltava meu corpo, minha mente e meu primitivo instinto de sobrevivência começava a adormecer, mas não completamente. Posso pensar que nem uma pessoa agora.

Precisava de um banho, precisava me sentir menos imundo. Ainda conseguia fazer isso.

Então, ainda com os olhos não muito abertos e com pensamentos semi-primitivos esticava a mão até a torneira e começava a sentir a aguá escorrer pelo meu corpo.

Eu sempre iria olhar minha barriga, odia-la e imaginar que de alguma forma ela iria embora sozinha.

Tinha bituca de cigarro até no banheiro.

Sai, liguei a TV para saber que horas eram. Sempre era a hora de acordar, ou cedo ou tarde demais. Na maioria das vezes, tarde.

Água.

Havia bebido tudo que tinha em casa, já que trocar pessoas por bebida parecia o correto. Não é que não havia ninguém, só não sei onde procurar.

Beber sozinho é menos complicado que ir atrás de companhia sozinho. Acho que nunca aprendi como fazer o segundo.

Eu tenho certeza que se eu procurar vou encontrar alguma bebia em alguma lugar e vou poder fumar meu último cigarro. Então vou repetir tudo.

Vou sair pra comprar mais os dois, na esperança de trombar com alguém no caminho, olhar para os lados e desviar o olhar na hora certa.

Água. Não, cerveja.

Não que minha cabeça tenha parado de doer, nem que minha boca esteja menos amarga, mas é assim que começavam os domingos.

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