quarta-feira, 15 de setembro de 2010

First Date

O restaurante, a bebida, a comida e o clima. Tudo é igual.

Repito as palavras, conto as mesmas histórias, arranco as mesmas risadas.

A ansiedade é a mesma, as vontades também, talvez o final da noite seja igual.

Mas a pessoa na minha frente é diferente.

Às vezes, quando ela se vira ou mexe no cabelo, eu penso em você.

Toda vez que entra alguém pela porta do restaurante eu olho com certa esperança de que seja você entrando.

Te vejo no rosto da garçonete ou sentada na mesa ao lado. Torço para que seja seu o reflexo no espelho ou que seja sua voz lá fora, rindo enquanto espera na fila.

Repito nosso primeiro encontro várias e varias vezes, mas não consigo recria-lo.

Veja as garotas mudarem, mas as mesmas palavras funcionarem. Nunca sinto o mesmo gosto na comida.

Penso que talvez tenha algo errado com o restaurante, mas continuo voltando, continuo trazendo elas e falando de você, ou contando exatamente o que eu te contaria.

Continuo te procurando nas outras mesas, nas outras bocas, em outros suspiros.

Visto a mesma gravata, passando o mesmo perfume e tentando ter a mesma intensidade.

Ainda sei de cor as falas, os atos e os movimentos, mas talvez eu não seja um ator tão bom, pois não consigo enganar a mim mesmo.

4 comentários:

RenanFlud disse...

falhando

Camila Paier disse...

Perfeito. Descreveu com perfeição toda essa tentativa vã que é fugir de um passado intenso, um pretérito perfeito muito bem conjugado. E não nos aparece ninguém, é assim mesmo. É tanta perfeição, que comprar se torna inevitável - e nos é, intermante, torturante. Enfim..Chorei aqui, te lendo. Teu melhor texto, a meu ver, até agora. Será que pro outro lado da moeda, é também só desenganos e saudade?
Beijoca!

Talita Oliveira disse...

Vi o tweet da Camila como teu blog. Corri pra cá porque sabia que realmente valeria a pena! E valeu. Merece repetidas doses.
Amei esse texto. Tocou-me profundamente. Há pouco passei por um momento assim.

Beijos!

Anônimo disse...

Só quem viveu intríssicamente esse sentimento para descrevê-lo assim, com tanto tato. Minuciosos detalhes que para alguns são despercebidos. Uma mistura de busca e nostalgia pelo o que é único. Adorei o texto Renan. Parabéns!
Um beijo.