segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Foi ontem...

Ela respira fundo. Estou mais nervoso do que ela. Eu pensei tanto nesse momento, na minha cabeça eu ficaria na frente dela, olhando seu sofrimento e a estrangularia usando os polegares, enquanto ela se vai.
É preciso apenas 8 polegadas de pressão para estrangular uma pessoa.
Mas acho que se ela me olhar, minha coragem irá ser consumida.
Continuo no escuro, tenho certeza que ela não pode me ver, mas pode me sentir.
Neste quarto, eu e ela, é como se fossemos do tamanho do mundo. Continuo andando fora de seu campo de visão e dou a volta por traz dela.
Assim como ela pode me sentir, eu posso senti-la, percebo cada limite do meu corpo, enquanto escuto ela chorar e soluçar.
Ela tenta falar alguma coisa enquanto se contorce amarrada na cadeira. Eu queria tirar a mordaça, mas conversar nesse momento seria pior do que ser visto.
O susto que ela toma ao ser tocada me assusta junto,e ela percebe, sinto-me envergonhado por meu despreparo ter sido percebido.
Minha mão escorrega por seu ombro, e agora a vergonha se vai, passo pelo pescoço até chegar ao outro ombro, meu bíceps esquerdo encosta na garganta enquanto a palma da minha mão esquerda segura meu bíceps direito e minha mão direita vai atrás de cabeça da garçonete. Fecho um mata-leão, golpe de jiu-jitsu que aprendi assistindo TV.
Então aperto.
Não lembro de ela ter lutado ou tentado gritar, só lembro do silêncio, era imenso.
O silêncio tinha um peso gigantesco, era denso. Após cerca de vinte segundos de pressão, uma pessoa comum perde a consciência. Mas parece tão mais que vinte segundos.
Não da para saber quanto tempo eu fiquei ali apertando, não consegui senti-la morrendo, não sabia dizer quando era suficiente.
Senti que ela dormiu. Senti que realizei o momento mágico, que consegui a transição que não consigo a fazer comigo mesmo.
-Durma – Sussurrei em eu ouvido.
A sensação de fazer alguém dormir em seus braços é maravilhosa, senti a energia indo embora. Foi tão pessoal, pele com pele, grudados, por vinte segundos fomos únicos.
Voltei para casa e dormi como não dormia há semanas.

2 comentários:

Anônimo disse...

Sufocantemente claustrofóbico. Parabéns!

Anônimo disse...
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